O dogma religioso é um conjunto de crenças e princípios considerados inquestionáveis em uma fé qualquer, exercendo um papel poderoso na formação do pensamento individual. Sua influência se manifesta de diversas maneiras, moldando a visão de mundo, os valores e a ética da pessoa. Compreender os impactos positivos e negativos do dogma é fundamental para entender sua complexa relação com o desenvolvimento individual.
O dogma oferece um sistema coeso de crenças que serve como base para a compreensão da realidade. Ele fornece respostas a questões existenciais fundamentais sobre o propósito da vida, o significado do sofrimento e a natureza da divindade. Essa estrutura de crenças pode trazer conforto e segurança, especialmente em momentos de incerteza e crise. Por isso é possível perceber que uma simples mudança de religião ou de pensamentos, nem sempre é capaz de auxiliar por um tempo maior aquele que deseja transformar-se em sua melhor versão.
Os dogmas religiosos geralmente prescrevem normas de conduta e valores éticos que guiam o comportamento dos indivíduos. Essa orientação moral pode contribuir para o desenvolvimento do caráter, promovendo virtudes como compaixão, honestidade e justiça. Além disso, o dogma pode fortalecer o senso de comunidade e pertencimento, ao conectar os indivíduos a uma tradição e a um grupo com valores compartilhados.
Embora o dogma possa apresentar alguns efeitos positivos, é importante reconhecer também seus impactos negativos. A rigidez dogmática pode limitar o pensamento crítico e a capacidade de questionamento, impedindo o indivíduo de desenvolver uma visão de mundo mais abrangente e complexa. Dogmas absolutos podem levar à intolerância e ao julgamento de outras crenças e perspectivas, dificultando o diálogo inter-religioso e o respeito à diversidade.
Para que se tenha um relacionamento “saudável” com o dogma religioso – partindo do princípio de que a pessoa ainda reserva o dogma em seu comportamento diário, independente da religião, é necessário adotar uma postura de equilíbrio. É fundamental que o indivíduo se sinta livre para questionar, analisar e interpretar as crenças de forma crítica, buscando sempre uma compreensão mais profunda e autêntica da fé, por meio do uso da razão. O fato de usar a razão, entendemos que está implícito o respeito à diversidade de pensamento, no entanto, não custa nada evidenciar.
Com isso, entendendo que o dogma faz parte da maneira de pensar e agir das pessoas, influenciado pela religião abraçada na presente encarnação (ultrapassando a barreira da encarnação presente, inclusive!), o dogma não deve ser um impedimento para o crescimento intelectual e espiritual, sobretudo quando é possível que o aprendizado ocorra utilizando-se de conhecimentos desenvolvidos em outras religiões, com outras abordagens e que também podem contribuir para o seu aprendizado. Contudo, vale a reflexão, porque uma mudança para se abrir mão de dogmas caminha pelo mesmo entendimento do processo de renovação interior, que requer esforço, reflexão, análise e ação diferente para a transformação necessária. O dogma existe, é real inclusive entre os adeptos do Espiritismo. Cabe ao espírita compreender a diferença do que é dogmático e do que é doutrinário.
Allan Kardec utiliza da expressão “dogma” para ilustrar, nas obras fundamentais, sobretudo em O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo, o pensamento judaico que tratava, por exemplo, a reencarnação como “ressurreição”.
Vale a pena conferir!
Leprosos purificados, tempo de preparação
Iniciamos as reflexões inspirados no primeiro capítulo do
livro Jesus Terapeuta. Citamos a obra para que os amigos possam
acompanhar, pari passu, as reflexões que serão construídas e a partir
delas aprofundar de acordo com suas percepções e insights.
O texto-base do Evangelho utilizado para as reflexões está em
Mateus, capítulo oito, versículos de dois a quatro.
Eis que
veio um leproso e o adorou, dizendo: “Senhor, se quiseres, podes tornar-me
limpo.” E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: “Quero; sê limpo.” E logo
ficou purificado da lepra. Disse-lhe, então, Jesus: “Olha, não o digas a
alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés
determinou, para lhes servir de testemunho. (Mateus 8, 2-4)
O autor ainda acrescenta passagens similares dos Evangelhos
narrados por Marcos (1, 40-45) e Lucas (5, 12-14). Mateus, Marcos e Lucas são
considerados sinóticos, isto é, Evangelhos narrados de forma similar,
com histórias em comum, descritas na mesma sequência, sugerindo que os
“autores” compartilham o mesmo ponto de vista, e, consequentemente,
apresentam-se “ligados entre si”, como pode ser observado na figura 1.
Figura 1 – Relação entre os Evangelhos Sinóticos
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelhos_sin%C3%B3pticos
Observa-se, na figura 1, que há estreita relação entre os
Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, com conexões “triplas”, assim como também
com conteúdos exclusivos em cada um dos Evangelhos. A maior parte do conteúdo
narrado em Marcos encontra-se em Mateus e Lucas. Dentre os sinóticos,
destacamos que em Lucas há maior percentual de conteúdo exclusivo, em relação a
Mateus e Marcos. Isso sugere, inclusive, um nível de detalhamento maior por
parte do autor, que se esmerou em registrar aspectos que pudessem auxiliar ainda
mais na compreensão dos ensinamentos de Jesus.
Nesse aspecto do estudo, não há preocupação em relação às
adulterações sofridas pelos Evangelhos ao longo do tempo porque a partir da
letra, extrairemos o conteúdo doutrinário que se espera seja compatível com o que
o Evangelho apresenta em sua essência.
Com essa introdução, contextualizamos o leitor em relação às
semelhanças existentes entre os Evangelhos sinóticos e por isso estudiosos
utilizam mais de uma passagem para exemplificar e apresentar as possíveis
alterações que possam existir em termos de entendimento sobre a passagem
evangélica.
A passagem do Evangelho trabalhada (Mateus 8, 2-4), inicia
com a busca do leproso para a sua cura. É extremamente importante
destacar a “busca”. O dicionário define a “busca” como um empenho (esforço)
para encontrar algo ou alguém; refere-se ainda a uma pesquisa detalhada, que
remete a investigação; dedicação para alcançar, conseguir alguma coisa;
são tentativas. É a pessoa que se dedica a buscar a verdade que a
vida revela à medida em que a consciência desperta do entorpecimento das
paixões.
A verdade, segundo Marilena Chaui, como um valor, significa
que “o verdadeiro confere às coisas, aos seres humanos, ao mundo, um sentido
que não teriam se fossem considerados indiferentes à verdade e à
falsidade”. Em outras palavras, a busca pela verdade é um enfrentamento
que se estabelece contra os dogmas. O dogmatismo é algo que se
desenvolve desde tenra idade, quando se estabelece que a maneira como nós
pensamos é a maneira como o mundo realmente se expressa.
Por isso, entendemos a importância do pensamento de Allan
Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo quando destaca que, reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços
que emprega para domar suas inclinações más. As impurezas da alma, são
aqui interpretadas, não em um sentido religioso tradicional que remete a “pecado”
e sim como os erros que temos cometido e ainda recalcitramos, por não
compreendermos em essência porque passamos pelo que passamos e sofremos o que
sofremos na Vida.
O dogma do pecado é fator limitador no campo de ação
do indivíduo. Acredita-se, por meio do dogma, que, se você pecou, deixa de ser “puro”.
Como a doutrina espírita é evolucionista, e fomos criados simples e ignorantes,
aquilo que verdadeiramente se purifica não retrograda. Com isso, entende-se que,
o que a religião convencional denomina “puro” é, na realidade, o “simples”, “ignorante”
de quaisquer conhecimentos. A partir de suas experiências reencarnatórias o ser
evolui, deixando a ignorância.
Observem que apenas refletindo em uma expressão (“busca”),
poderíamos desenvolver textos longos e ainda não teríamos enfeixado todas as
possibilidades de abordagem do tema. Assim sendo, seremos suscinto ao concluir
a passagem que remete à “busca” e que alude à necessidade de preparação.
A busca então é o esforço que empreendemos para encontrar a verdade.
A verdade foi esquadrinhada pelos ensinamentos de Allan Kardec, incluindo o seu
estudo sobre o Evangelho de Jesus, que é a expressão máxima de Amor que o planeta
conheceu.
A preparação necessária no processo de busca nos
convida a conectar com o processo de purificação ocorrido por meio do
simbolismo oferecido pelo batismo de Jesus, realizado por João Batista
(Mateus 3, 13-17). João Batista pregava no deserto e a condição “deserto”,
em seu sentido figurado, significando “escassez” e “falta”, pode ser
compreendida como o cenário adequado para a preparação. Em todo processo de
transformação que se tem contato na história da civilização, o indivíduo
consegue extrair das dificuldades e dos momentos de profundo dissabor,
ensinamentos que o estimulam a não desistir, por isso o processo de
busca passa pela limpeza das ideias dogmáticas, personalistas,
que mais incentivam o afloramento do egoísmo e do orgulho do que oferecem
alternativas para o crescimento. Por isso a importância de uma busca direcionada.
O estudioso atento pode empreender outras associações tanto no Antigo
Testamento, quanto no Novo Testamento. Um outro exemplo poderia ser a simbologia
por trás do “dilúvio”, narrado no livro “Gênesis” de Moisés, em que o dilúvio
pode representar purificação, ainda na linha de entendimento da limpeza,
que renova esperanças, auxilia na redefinição de propósitos.
A busca de qualquer maneira, acaba sendo uma busca com um
enorme desprendimento de energias, trazendo ansiedade, insegurança e incerteza,
porque a pessoa que busca sem saber o que quer, assemelha-se à Alice no País
das Maravilhas, fábula muito conhecida de Lewis Carroll (pseudônimo de Charles
Lutwidge Dodgson). Alice pergunta ao Gato Cheshire: “pode me dizer qual o
caminho devo tomar? – Isso depende muito do lugar para onde você quer ir –
disse o Gato. Eu não sei para onde ir! Disse Alice. – Se você não sabe para
onde ir, qualquer caminho serve.”
A busca orientada pelos ensinamentos de Jesus, reflete
a postura adotada pelo leproso do início da reflexão. “Eis que veio um
leproso, e o adorou...”. A adoração pode ser entendida como uma expressão
de afeto, de carinho, uma homenagem e ao mesmo tempo veneração. No entanto,
essas expressões podem simbolicamente, representar a orientação aos ensinamentos
Daquele que é o Modelo e o Guia da Humanidade. Nesse sentido, adorar não é “bajular”
e sim ter os ensinamentos de Jesus, à luz do Espírito, como referência.
Por ser o processo de preparação um continuum, ou
seja, é oportuno manter-se preparado ou buscar a preparação para que a limpeza
seja o início de uma transformação duradoura, efetiva, que nos capacitará a
novos desafios.
O estudioso pode avançar, uma vez mais sobre os ensinamentos
do batismo, ampliando sua compreensão sobre o processo de limpeza, que
pode ocorrer de diversas formas, inclusive, por exemplo, por meio da
reencarnação, já que o processo reencarnatório se dá por meio de uma gestação
que tem duração variada, mas que pode representar períodos de preparação
para o “nascimento”. Nascimento do que? Nascimento do “homem velho”? Nascimento,
despertar para uma nova vida em busca de maior compreensão sobre o seu papel
nessa existência.
Dessa forma, com essas singelas reflexões que podem ser
ampliadas e reforçadas com os ensinamentos dos Espíritos, assim como demais
estudos empreendidos pelo estudioso doutrinário, interrompemos as reflexões, com
a compreensão de que a postura adotada diante dos desafios, fala mais sobre o
nosso aprendizado, do que as expressões verbais que tentam explicar
condicionamentos.
Muito ainda pode ser dito, como já informamos no texto.
Seguindo esse estilo de interpretação, sugerimos que cada um desenvolva a
interpretação dos demais pontos do texto até chegar à conclusão sobre a
importância da preparação, como fase necessária para nossa caminhada
evolutiva. A preparação, simbolicamente, inicia quando você entende que é o momento
de começar sua caminhada de transformação, ou seja, em seu sentido figurado sempre será representado pelo presente, o agora, que é o momento principal para se trabalhar, independente da idade, credo, raça ou circunstância. Siga em frente!
Enquanto isso, seguimos refletindo e desejosos de que os
amigos encontrem pontos para o aprofundamento no estudo, de maneira que o
aprendizado se faça útil ao seu coração no dia-a-dia.
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