O fim das religiões está próximo?

Os recentes acontecimentos envolvendo dois religiosos em situações diferentes e de crenças diferentes (um católico e uma protestante), chamaram a atenção mais uma vez para as dificuldades que envolvem o caminho daqueles que se dizem cristãos. Há um terceiro caso, de um médium espiritualista do interior de Goiás, que cabe reflexão também.

As interpretações literais dos ensinamentos de Jesus, no Novo Testamento, tem sido um desafio desde o seu nascedouro, há mais de dois mil anos. Em sua Carta aos Romanos, Paulo de Tarso registra que “Ele (Jesus) foi entregue à morte para pagar todos os nossos pecados e ressuscitado para nossa completa justificação” (Romanos 4:25).

Com isso, muitos religiosos se consideram “livres” de pecados, porque, se havia algum, Jesus já os pagou. Por ser um dogma, i.e., “o que se pensa é verdade”, independente de comprovação, de lógica e racionalidade, é aceito sem questionamentos. O religioso então, passa a viver de acordo com suas tendências e aptidões, sem educar seus instintos e sentimentos mais primitivos.

Os escândalos são necessários para que possamos refletir no sentido mais sublime do “religare”. Que mérito haveria para o ser humano viver sendo que seus atos injustos, rancorosos, primitivos e egoístas foram abonados pelo Cristo de Deus? O que aconteceu ou aconteceria com o indivíduo que foi ou é o alvo de todos esses impropérios?

Por tudo isso, a pergunta do título é evocada nesse momento. A religião tal qual temos visto na atualidade é boa ou prejudicial ao indivíduo? Creio que não restam dúvidas que existam religiosos tóxicos, em todas as religiões e seitas, mas esses formam diminuta parcela do todo.

As divagações poderiam nos levar a diversos caminhos, sobretudo quando a proposta é explicar e justificar o momento que vivemos. Entretanto, o que buscamos é sair das convenções e dogmas impostos por religiões e religiosos e olharmos para o cerne da questão: a sua religião, a sua crença, tornou você um cidadão melhor do que antes de abraça-la? Se a resposta for sim, independente da religião, você encontrou o seu caminho.

Se, em uma anamnese filosófica, ao estilo platônico, você perceber que há muito mais fragilidade a ajustar em seu ser do que aqueles ajustes feitos, não se preocupe. Talvez você esteja amadurecendo seu olhar e com isso revisitando tudo aquilo que melhor lhe convém para se libertar das injunções impostas por lideranças religiosas arbitrárias, que vislumbraram o alcance dos ensinamentos religiosos, como fonte de poder, mas não conseguiram repassar para os demais, privando-os da verdadeira beleza da mensagem Evangélica.

Oxalá seja o fim das religiões que ainda são utilizadas como trampolim para evidenciar as fragilidades morais que assombram a humanidade. Oxalá a religião do futuro seja aquela que esclareça e explique as relações entre o mundo material e espiritual, congregando a todos, ateus, religiosos de todas as religiões, em um só rebanho, com fraternidade sincera, resoluta, respeitosa e amorosa em um religare como nunca antes visto.

Depende de nós, cada um de nós, romper com o orgulho que impede reconhecer as próprias limitações, justificando atitudes egoístas para apontar as limitações do próximo.

Assim agindo, talvez compreendamos melhor o sentido espiritual – ou pelo menos um prisma desse sentido – na expressão trazida por Paulo de Tarso, quando diz que Jesus  pagou “todos os nossos pecados”. Jesus é o grande “fiador” da humanidade. Foi Ele que intercedeu por cada um de nós, junto ao Pai, para que pudéssemos nos beneficiar com o dom da Vida e reencarnarmos na Terra. Que possamos fazer jus e avançarmos, progredindo sempre...

(2020)

Comentários