O problema do ser - parte I

Embora o campo seja teórico, a filosofia é a base do conhecimento científico e moral. A partir de seus questionamentos, ciências erigiram seus edifícios com solidez e avançam com métodos que permitem cada vez mais o seu aprimoramento.

A Ciência Espírita iniciou assim também. Entretanto, em função da ausência de cientistas, quase estagnou seu processo de análise do fenômeno de intercâmbio e assuntos subjacentes. O cientista brasileiro mais conhecido foi o Dr.Hernani Guimarães Andrade (1913 – 2003), engenheiro de profissão, parapsicólogo por vocação. Estudou profundamente sobre a reencarnação, escrevendo diversas obras sobre o assunto.

Sua obra mais conhecida é “Reencarnação no Brasil”, publicada pela primeira vez em 1958, com prefácio de Freitas Nobre, advogado, professor, escritor e ex-deputado federal, marido da Dra. Marlene Nobre. A obra é resultado da análise de oito casos sugestivos de reencarnação, sendo um deles a reencarnação de um espírito que teria vindo em uma existência como homem e posteriormente como mulher, e outro com o processo inverso: reencarnado como mulher em uma existência, retorna como homem em outra.

O Dr. Hernani desenvolveu ainda uma obra de nome “A Teoria Corpuscular do Espírito”, muito falada, pouco estudada, e que mereceu crítica severa do Professor Herculano Pires na obra “A Pedra e o Joio”. O exemplar que possuímos, é da primeira edição, e contém uma dedicatória do autor para os seus pais, além de um comentário, escrito de próprio punho, que apresentaremos em primeira mão para os amigos:

- “O tecido sutil da espiritual roupagem que o homem envergará além da morte física, sem o corpo de carne, tem uma concepção tão arrojada quanto seria necessário para se esclarecer a uma lagarta sobre a sua metamorfose, após vencer a inércia da crisálida...!

Trata o autor da tentativa de se estabelecer uma “Teoria”, algo que surge a partir da experimentação, não necessariamente assim para todas as teorias, mas especialmente para a Teoria Corpuscular do Espírito assim foi, já que Allan Kardec iniciou o processo por meio da experimentação com os Espíritos. A “Teoria Corpuscular do Espírito” sofreu influência direta do trabalho desenvolvido por G. B. Quaglia, que apresentou o modelo do “átomo psicobiofísico”. A hipótese de um “átomo psíquico”, segundo o autor citado, poderia parecer absurda, entretanto, identifica-se com os princípios da psicologia analítica desenvolvida por Carl G. Jung (1875 – 1961).

Na atualidade, faltam obras e críticas às obras, em função da escassez de cientistas. Existem estudiosos que desenvolvem pesquisas bibliográficas, que é uma etapa, digamos assim, do processo de pesquisa, mas que não encerra todo o processo. Alguns médicos desenvolvem observações e pesquisas interessantes, pecando na aplicação “metodológico-doutrinária”, assim como também na análise doutrinária, atribuindo mais valor aos efeitos (físicos) do que à causa (espiritual), com exceções, evidentemente.

Graças aos esforços de Allan Kardec, perguntas fundamentais abriram um diálogo amplo e estruturado com os Espíritos, permitindo ao Espírita desenvolver-se em temas que lhe são familiares, seja pela necessidade ou pelo gosto. O papel científico desenvolvido por Kardec ocorreu na estruturação de um método que permite analisar como ocorre o fenômeno (i.e., analisar a relação do mundo espiritual e o mundo material), assim como também estudar os efeitos dessa relação no mundo material. Contextualizou o fenômeno, buscando o que existia na literatura e a forma como fora abordado na época, ajustando o entendimento de acordo com a ciência nascente: o espiritismo.

A princípio a filosofia se mostra complexa, em função de sua abstração. Essa abstração é, em linhas gerais, a capacidade de analisarmos um determinado aspecto, que está contido em um todo. Isso nos permite ter uma ideia da importância do pensamento para uma vida saudável física e mentalmente. Ainda assim, de fato, a filosofia apresenta um grau de complexidade variado, já que ao longo da humanidade se desenvolveu tanto no Oriente quanto no Ocidente de acordo com seus destacados pensadores.

Como vamos avançar nossa compreensão nesse tema? De que maneira poderemos então compreender seu papel determinante na Doutrina Espírita, já que é, O Livro dos Espíritos, a “pedra angular” do Espiritismo?

Essas e outras questões pretendemos tratar em seguida, com textos curtos e que sejam úteis às nossas reflexões.

(2021)

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