EUTANÁSIA

A dor do jovem que busca na eutanásia a solução para seu sofrimento

A eutanásia é um tema complexo, cuja abordagem precisa ser respeitosa para com aquele que entende ser esse o único recurso para amenizar suas dores e sofrimentos.

Na Holanda, países baixos europeu, uma jovem de 29 anos foi autorizada a proceder com a eutanásia após tentar tratamentos por mais de 10 anos sem resultados efetivos (O Globo). Seu quadro era de sofrimento mental com depressão crônica, ansiedade, transtorno de personalidade e Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

No Brasil, jovem de 27 anos, estudante, mãe, é acometida de forte dor do lado esquerdo do rosto (UOL). Foi diagnosticada com “neuralgia do trigêmeo”, condição crônica associada a uma disfunção ou lesão do nervo trigêmeo, que causa uma dor considerada a “pior do mundo”, sem solução aparente. Ela sente dores 24 horas por dia, por isso, a jovem mineira de Bambuí gostaria de sair do Brasil para realizar a “eutanásia” ou “suicídio assistido”. 

A palavra “eutanásia” é de origem grega e significa “boa morte”. Trata-se da prática de provocar a morte de um paciente em estado terminal ou com sofrimento insuportável, de forma rápida e indolor, visando o alívio do sofrimento.

Do ponto de vista da Doutrina Espírita tal prática é entendida como uma ação direta na vida de uma pessoa, onde se considera que o encarnado encontra-se em estágio de aprendizado e a necessidade de passar por experiências que possam auxiliar seu desenvolvimento se fazem necessárias. Todavia, dizer que alguém precisa passar por sofrimento insuportável é, no mínimo, desumano, embora o entendimento da Lei Divina seja esse.

O tema “sofrimento” é extenso e apresenta diversas possibilidades de estudo. Em síntese, poderíamos dizer que existem dois tipos de sofrimento. O sofrimento voluntário, aquele em que o indivíduo, por meio de suas atitudes, nessa encarnação ou em outras, provoca a situação em que está vivendo a partir do seu comportamento e da maneira como lidou com as circunstâncias da vida. E o outro sofrimento, é involuntário e pode ocorrer de diversas formas, como é o caso dos “fenômenos da natureza”. O fato é que estamos todos, em um processo de expiação e provas que é caracterizado pelo sofrimento. É nosso papel tentar amenizar esse sofrimento, não apenas pensando na vida presente, como na vida futura.

Mas como ponderar sobre sofrimento, reencarnação, “karma” e vida futura quando se sente uma dor insuportável? É preciso agir com fraternidade, empatia e compreensão diante desses quadros, ouvindo com serenidade, validando sentimentos no sentido de reconhecer a dor e o desespero da pessoa, acolhendo e tentando construir alternativas sobre outros possíveis tratamentos. Com isso, é extremamente importante envolver a família, trabalhar com a família sobre a situação em busca de apoio e ajuda para o indivíduo que está sofrendo.

Não obstante à empatia e todo envolvimento fraterno, é prudente que se entenda ainda que a legislação brasileira classifica, salvo melhor compreensão jurídica, como homicídio, de acordo com o Código Penal, pois configura-se como uma ação de causar a morte de outra pessoa.

A vida é dom de Deus. O viver é construção diária de cada um, de maneira que é necessário, ante a dores tão profundas e insuportáveis, abrir mão de preconceitos, quando existirem, e buscarem ajuda em todas as áreas do conhecimento humano, desde a ciência até a religião, passando por práticas esotéricas das mais diversas. É a busca, já que interromper a própria vida é entendimento, à luz da Doutrina Espírita, como um erro grave. No Espiritismo o tratamento pode envolver a fluidoterapia, por meio da aplicação de passes, água fluidificada, atendimento e acompanhamento fraterno, reuniões mediúnicas de tratamento espiritual e estudo, concomitantes ou intercalados.

Desconhecemos até quando vai o sofrimento de alguém. Pode durar mais algumas horas, dias, anos, ou até uma encarnação inteira. Abreviá-lo seria interromper um processo que poderia conduzir a uma melhor compreensão de sua própria jornada atual. Contudo, em momento algum há desrespeito quanto a dor que a pessoa sente ao apresentarmos esse entendimento doutrinário, e sim uma tentativa de se envolver mais pessoas que possam sugerir tratamentos alternativas e ajudar a minimizar esse sofrimento.

No Brasil existem “clínicas da dor”, que são espaços que tratam pacientes que sofrem de dores crônicas, e que tem como objetivo a melhoria de qualidade de vida, à medida em que novos experimentos e práticas médicas/científicas são desenvolvidas. É um espaço com equipe multidisciplinar, que pode incluir médico especialista em dor, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e terapeutas ocupacionais que, por meio de suas especialidades, oferecem tratamentos medicamentosos, exercícios, técnicas de relaxamento e intervenções minimamente invasivas.

Dessa forma, pensando no alívio da visa presenta com vistas à vida futura, o respeito ante a autonomia do paciente em decidir por tal prática, auxilia na manutenção de uma comunicação aberta, honesta, fraterna e respeitosa para que a pessoa se sinta livre e ao mesmo tempo acolhida.

A Doutrina Espírita é espaço de acolhimento. Por isso, antes de quaisquer medidas extremadas, procure apoio complementar ao tratamento do paciente em casas espíritas sérias de sua cidade ou região.

“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo. 13:35)

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